Brilha, Angelim!

Com trajetória humana e profissional ímpar, o belo-horizontino Angelo Machado deixa vivo o seu legado como uma das personalidades brasileiras mais respeitadas e carismáticas nos campos da ciência, da literatura e do ambientalismo

“Vivo nas estrelas porque é lá que brilha a minha alma.” Este verso de Manuel Bandeira (1886-1968) é a metáfora perfeita para eternizar a memória de uma das personalidades mais emblemáticas na história de Minas e do Brasil: o ambientalista e professor Angelo Machado.

Também cientista, escritor e dramaturgo brilhante, ele morreu de pneumonia no último dia 6, véspera da lua cheia de abril, aos 85 anos, na capital mineira. Para além do docente querido e respeitado por colegas e alunos, era um ser humano extremamente divertido e midiático.

Uma entrevista dele no Programa Jô Soares, exibida em dezembro de 2015, e que voltou a circular com força na internet após sua morte, comprova a sua refinada veia humorística. Em certas ocasiões, Angelim, como era carinhosamente chamado por muitos, até fazia pose de sério para fotos. Mas, definitivamente, era leve feito as libélulas que tanto estudou e defendia.

Carismático como poucos, sabia rir de si mesmo e das situações cotidianas. Avesso a velórios, despediu-se ironicamente da vida sem as honras e o calor da sua legião de admiradores, em razão da pandemia do coronavírus.

Ao lado dele, caía por terra a imagem de que o profissional da ciência é um sujeito chato e carrancudo. Arrancava gargalhadas até mesmo dos mais sisudos interlocutores, bastando alguns minutos de conversa.

Essas e outras qualidades ficaram nítidas em uma histórica entrevista dele, concedida em agosto de 2009, à Revista Ecológico, aqui escolhida para homenagear a sua memória.

Angelo integrava desde o primeiro número o nosso Conselho Consultivo, ao lado de Célio Valle e de Hugo Werneck (in memoriam), a quem a publicação é dedicada, já há 12 anos, em todas as luas cheias do ano.

O tempo para ele parece não ter passado. As suas ideias e a visão de mundo ainda conservam o frescor e a atualidade. E fazem voltar ao coração e ouvidos de todos os que conheceram o seu jeito engraçado de ser e o inconfundível timbre de voz. “Achavam que por ser fanho, eu não poderia ser professor. Dei aulas 55 anos fanhoso. Os alunos se acostumam logo.”

Conceição e as libélulas

O devotado amor pela esposa Conceição (falecida em 2007) e a paixão por libélulas foram lâmpadas ao longo de seus passos. Professor-emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos criadores e último presidente da Fundação Biodiversitas – ele, que foi sacristão na Igreja de Lourdes, em BH – confessou:

“Só me tornei médico porque, na época, não havia o curso de Ciências Biológicas”. E para honrar o juramento de Hipócrates, feito na formatura, absteve-se do exercício da profissão. “Salvei a humanidade não tratando dela.”

A gratidão pela existência, o exemplo e o legado desse ser humano singular seguirão cintilando na memória do nosso firmamento!

Confira, a seguir, a lembrança de sua entrevista. E a saudade de seus amigos e companheiros fiéis, exposta numa verdadeira ‘onda de afetos e homenagens’ desencadeada, sobretudo nas redes sociais, diante da sentida notícia do seu ‘encantamento’.

Quando começou a paixão por insetos?

Sempre gostei de bicho. Desde menino. Todo menino gosta de bicho, não é? As crianças aprendem a falar ‘papai’, ‘mamãe’ e ‘au-au’, porque têm tendência a gostar de bicho. Talvez eu tivesse um pouco mais que a média delas. Quando via meu pai com um livro na mão, logo gritava: ‘Livro de bicho, livro de bicho!’ Até em dicionário eu procurava bicho.

É verdade que o senhor comeu uma barata?

Sim. Eu brinco com essa história e digo que foi assim que acabei revelando a minha mãe meu gosto por insetos. Eu tinha um ano e meio quando ela me pegou debaixo da cama, comendo uma barata. A curiosidade nessa idade é bem típica.

E sua coleção de insetos? Quando começou?

Viajava para a fazenda do meu pai, no Vale do Rio Doce, e de lá trazia insetos. Era sacristão da Igreja de Lourdes, aqui em Belo Horizonte, na época, e conhecia o Padre Pereira, especialista em besouros. Comecei meus estudos ainda menino, já sob a orientação de um entomólogo.

Por que optou pela medicina?

Pensei em fazer agronomia, onde havia um excelente entomólogo, o Angelo da Costa Lima, mas vi que teria que estudar muita coisa sem proveito. O curso de história natural estava apenas começando e o de medicina já tinha laboratório, trabalho prático e acabei gostando da parte básica. Ainda estudante, fui monitor de histologia e anatomia.

E depois da graduação?

Dei aulas de neuroanatomia na UFMG durante 28 anos. Quando me aposentei, fiz concurso novamente para o Departamento de Zoologia. Já havia desenvolvido quase 300 trabalhos com libélulas, meu hobby à época. Mas elas acabaram por se tornar minha nova profissão.

As libélulas sempre estiveram presente em sua vida?

Eu era jovem, quando, voltando da fazenda de meu pai com algumas libélulas, minha tia, a escritora Lúcia Machado de Almeida, me disse: ‘Vá ao Instituto de Educação e procure o professor Nilton Santos. Ele entende de libélulas e poderá lhe dizer o nome dessas’.

E o senhor foi?

Sim. Mas o professor Nilton foi categórico comigo: ‘Não vou dar nome nenhum, você mesmo vai fazer isso’. Entregou-me sua tese sobre libélulas e disse: ‘Estude e volte amanhã’. Eu li tudo na maior curiosidade. Em três meses, já estava no Museu Nacional estagiando com ele. Minha paixão aumentou. Dois anos depois, já havia descoberto uma nova espécie.

Por que escolheu a libélula?

Porque ela é o ser mais bonito que existe. Só perde para a mulher.

O senhor não chegou a exercer a medicina?

Para a saúde dos doentes, nunca tratei deles. O juramento de Hipócrates diz que os médicos devem salvar vidas. Eu salvo vida é não tratando de doente.

Ainda assim acha que valeu a pena fazer o curso?

Sim. Porque foi na medicina que encontrei Conceição, mulher da minha vida, e melhor descoberta que fiz como cientista.

Como a conheceu?

Depois de formado, ela chegou ao meu laboratório para pesquisar a glândula pineal, objeto de meus estudos. Em pouco tempo, notamos que gostávamos mais um do outro do que da glândula pineal. Aí, trabalhamos nosso namoro, noivado e o casamento, que nos deu quatro filhos e seis netos. Mas também fizemos muita coisa juntos na área científica. Criamos o Laboratório de Neurobiologia, na UFMG, e publicamos diversos estudos. A Conceição era uma grande cientista e orientou mais teses de mestrado e doutorado do que eu.

O que move um cientista?

Os cientistas trabalham porque são loucos de curiosidade e não porque querem salvar o mundo. O que nos move é a mesma motivação das crianças pela vida. Crianças e cientistas querem descobrir como funciona o mundo e qual a utilidade de cada coisa. Por isso, no lugar de barrar a curiosidade das crianças deveríamos incentivá-la.

Que outras alegrias, depois da Conceição, o senhor viveu?

O Prêmio Jabuti. Com ele me convenci de que era mesmo um escritor. Quando me tornei professor-emérito da UFMG, e a Conceição fez uma festa para mim, também fiquei muito feliz. Outra grande alegria são meus netos e, claro, as libélulas.

Depois que o hobby libélulas virou profissão, o senhor arranjou outro?

Sim, porque um homem não deve viver sem hobby. Minha família tem muitos escritores: Aníbal Machado, Lúcia Machado de Almeida e Maria Clara Machado. Influenciado, comecei a escrever para crianças.

A carreira de cientista ajudou na literatura?

No começo atrapalhou. Meu primeiro livro, ‘O Menino e o Rio’, foi recusado pela Editora Ática. Disseram que não era literatura, porque ensinava coisas e que não era ecologia, por ser ficção. Quem apostou nele, que hoje já tem mais de 30 edições, foi a Editora Lê.

A crítica ao seu trabalho literário se baseava em quê?

No argumento de que o cientista é chato e escreve explicando, ensinando. Mas meu objetivo, ao escrever, é despertar na criança o gosto pela leitura. Posso até lhe ensinar alguma coisa, mas isso é secundário. Nem em nome da ecologia um escritor tem direito de fazer um livro chato, porque o gosto pela leitura nasce quando somos crianças. A responsabilidade é muito grande.

O Prêmio Jabuti trouxe o reconhecimento pelo seu trabalho?

Sim. Foi emocionante. Os cientistas são excessivamente autocríticos. Mas com o Jabuti eu me animei. Descobri que tinha talento para a literatura.

Qual foi o livro premiado?

‘O Velho da Montanha – Uma Aventura Amazônica’, dedicado às esquecidas crianças indígenas do Brasil. Os personagens são reais, descritos a partir do que vivi na Amazônia.

O hobby literatura também virou profissão?

Não. Até dois anos atrás, dei aulas de entomologia. Foram duas décadas ao todo. Hoje, mantenho um escritório no Laboratório da UFMG e outro em casa. Divido meu tempo entre escrever e estudar libélulas. Agora, sou um aposentado de profissões.

De onde surgiu a inspiração para escrever ‘Manual de Sobrevivência em Recepções e Coquetéis com Buffet Escasso’?

De tanto observar festas e coquetéis com buffet escasso, descobri uma técnica de retirar da bandeja dois salgados de uma só vez. Alguém me disse para fazer uma crônica sobre isso. A ideia cresceu e virou livro que, mais tarde, adaptei para o teatro. Mais de 300 mil pessoas já assistiram à peça.

Como o ambientalismo surgiu na sua vida?

Meu pai era madeireiro. Eu notava, na fazenda dele, que a cada ano os bichos diminuíam. Isso me incomodava. Um dia, procurei o professor Hugo Werneck. Fiz parte de um grupo de ambientalistas históricos do Centro Mineiro para a Conservação da Natureza, cujo líder era o Hugo Werneck. Célio Valle, José Rabelo de Freitas e eu somos cria dele. Éramos ativistas. Fazíamos reuniões em nossas casas e no auditório da Faculdade de Medicina da UFMG. Juntos, incentivamos o governo a criar parques ecológicos. O Parque Nacional da Serra do Cipó, por exemplo, foi criado graças à ação do Centro. Nós trabalhávamos pela natureza.

Com tantos técnicos, o ativismo de vocês acabou se profissionalizando?

Sim. As empresas já estavam contratando nossos técnicos para elaborar pareceres ambientais em seus empreendimentos. Foi aí que o Centro e a UFMG criaram a Fundação Biodiversitas.

Como a Biodiversitas, responsável pela elaboração da Lista Vermelha, define as espécies da fauna ameaçadas de extinção?

O critério básico é o decréscimo da população e a área de distribuição da espécie. É um trabalho muito técnico, porque tanto é danoso deixar fora da lista uma espécie que pode se extinguir quanto colocar nela uma que não está ameaçada. Um exemplo é a anta. Ela não está na lista nacional, porque ainda há muita anta na Amazônia. Mas consta na de Minas Gerais, uma vez que sofre ameaça aqui. Se a espécie tem papel importante na natureza, deve ser preservada. Nosso mérito é mobilizar a comunidade científica que trabalha gratuitamente, subsidiando essa decisão.

Como esta lista ajuda na preservação das espécies?

Já que não dá para preservar todas as espécies e ecossistemas, temos que priorizá-los, orientando a canalização de recursos e estabelecendo áreas prioritárias para a preservação. Dessa forma, definindo as espécies que merecem proteção especial, colaboramos com a preservação.

O senhor acredita que crianças desta geração não conhecerão algumas espécies da nossa fauna e flora?

Sim. Fico extremamente triste, mas a possibilidade é real.

Para o senhor, qual é o grande nome do ambientalismo mineiro hoje?

Apolo Heringer. Os ativistas dão tiros para todos os lados. O Apolo concentrou seus objetivos na despoluição do Rio das Velhas. Sabemos que para ter êxito, ele movimenta, com sucesso, vários setores da sociedade. Por isso, acredito que a Meta 2010 – navegar, nadar e pescar no trecho do Rio das Velhas que corta a Região Metropolitana de BH – será cumprida. Claro que até o ano que vem o rio não estará totalmente despoluído. Mas grande parte dele, sim.

Acredita em Deus?

Acredito em um Deus meio diferente. E chego a Ele através da ciência, porque, do contrário, não consigo entender o universo. Esse Deus da religião católica, que castiga, é muito incoerente. Também não creio que Ele tenha criado tudo. Acho mais sensata a ideia de um Deus todo poderoso, que deixa que as coisas se resolvam por si, sem interferir em tudo.

E o fim do mundo?

Sou um otimista. Mas nesse ponto acredito que um dia haverá um final. Ou pela guerra nuclear ou pelas catástrofes ecológicas. Um décimo das ogivas que existem no mundo, hoje, pode destruir todo o planeta. E enquanto tivermos armas nucleares, correremos esse risco. O fim do mundo provocado por uma catástrofe nuclear pode acontecer a qualquer momento. Já, pelo aquecimento global, pode levar 50, 100, 200 anos.

Ainda faz palestras de educação ambiental para crianças?

Sim. E percebo um aumento da conscientização delas em relação ao meio ambiente. Antigamente, criança tinha medo de bicho e da mata. Hoje, ensina a família a usar os recursos sem desperdício. A grande chance para a sustentabilidade ambiental virá com o poder do voto dessa turminha. Hoje, as crianças colocam o dedo na cara dos pais para defender a mata e o rio. E, no futuro, terão a oportunidade de escolher seus candidatos pensando no meio ambiente. E também de cobrar deles uma política ambiental sustentável.

O senhor não teve essa abertura com seu pai?

Até que, para aqueles tempos, ele era liberal. Mas, mesmo assim, tivemos nossos conflitos. Também não havia essa ligação entre pai e filho como acontece hoje e nem a conscientização ambiental. Só para se ter uma ideia, as pessoas usavam bodoque para matar passarinho.

A política ambiental de Minas Gerais vai bem?

Acho que sim. Começou no governo do Eduardo Azeredo, com a participação do José Carlos Carvalho. Depois, houve um apagão ecológico, que foi a era Itamar Franco. Com a volta do José Carlos, que é um excelente técnico, estamos dando exemplo.

Como avalia a atuação do governo Lula em relação à Amazônia?

Não é ruim, não. O mundo cobra do Lula uma postura séria em relação à floresta. E ele não é bobo. A escolha da Marina Silva na pasta do meio ambiente foi excelente. E o [Carlos] Minc, mesmo um pouco desajeitado, não fica calado e já conseguiu que muito ministro abrisse o jogo sobre a política ambiental do governo. O Lula, muito esperto, não demitiu a Marina e não vai demitir o Minc.

Qual o futuro da floresta?

O desmatamento da Amazônia não será como o da Mata Atlântica. Mas, nas próximas décadas, com os impactos trazidos pelo aquecimento global, principalmente, devido ao consumo das maiores potências que poluem excessivamente a atmosfera, a floresta poderá sumir.

O que achou da eleição de Obama?

Minha velhice está me permitindo ver muita coisa boa acontecer. A eleição do Obama é uma delas. Ele é um gênio. Movimenta milhões de pessoas com a mensagem: Yes, we can.

Para o senhor, o que é o amor?

Essa é uma pergunta difícil. Mas acho que o amor é a coisa mais importante da vida. Tanto que é impossível ser feliz sem ele. Pena que está tão banalizado. Dizer ‘te amo’ ao fim de um telefonema hoje é o mesmo que dizer ‘tchau’. O amor é muito mais que isso. Ele nos leva às libélulas, às orquídeas e aos seres humanos.

Que mensagem o senhor deixa aos nossos leitores e quais seus planos para o futuro?

Não viva sem ter um hobby. Quero continuar estudando libélulas, fazendo literatura, palestras e respondendo às cartas das crianças que me escrevem. Pretendo viver 100 anos. Quando estiver com 99, vou fazer um requerimento pedindo prorrogação. Como este país é muito burocrático, até que o documento seja indeferido…

“Inspirados em você, seguiremos!”

“Genial, raro, essencial! Ele vislumbrou, acompanhado de amigos verdadeiros e visionários, a criação de uma instituição de excelência técnica, mas também politicamente posicionada, que lhe desse a devida liberdade para a aplicação prática e efetiva da ciência – estava posta a Fundação Biodiversitas, em 1989. Acontecesse o que fosse, nunca a abandonaria. Foi e continua sendo uma de suas apostas mais desafiadoras e, ao mesmo tempo, a que lhe rendeu imensas alegrias, sobre isso não resta dúvida. Sob sua lupa, a Biodiversitas floresceu. Nossos laços verdes abraçaram mais pessoas, mais bichos e mais florestas. Pela Biodiversitas do Angelo Machado, expandi o meu mundo e posso falar, com tranquilidade, o dos meus colegas também. Pelas mãos e olhos do Angelo pude ser iniciada e moldada à ciência e à prática da conservação da natureza. Meu mentor, aquele que me guiou. Juntos, viramos noites trabalhando, mas também fomos companheiros de boas e memoráveis risadas e celebrações noite a dentro. Nesses anos de convivência diária, tivemos alguns embates e, em todos eles, chegamos a um bom termo – ele estava certo na maioria das vezes, preciso ser verdadeira. Ainda assim, nessas horas, Angelo sempre agradecia por não ser tratado como um velho respeitável, pois abominava a ideia de ter suas opiniões acatadas somente pela ‘variável’ idade. Nesse ambiente, construímos uma amizade coesa, estruturada, sedimentada. Com ele aprendi sobre o limite entre o aceitável e o absurdo, tênue muitas vezes. Ele me chamava a olhar para trás e para frente ao mesmo tempo. Angelo me ensinou sobre coragem, otimismo, ânimo, amor e devoção! Com ele, aprendi sobre as grandezas da vida, continuadamente. Angelo, meu amigo, obrigada por ter me incluído nessa sua aventura, sem volta, de salvar espécies. Você está eternizado no meu coração e no de toda a família e amigos da Biodiversitas. Inspirados em você, seguiremos!”

(*) Superintendente-geral da Fundação Biodiversitas

 

Repercussões machadianas

Ecológico eterniza aqui alguns dos vários depoimentos e reverências ao professor Angelo. Leia, ria e se emocione:

Vivo no peito

“Querido Angelo,

Você dizia: ‘Detesto velórios. Não pretendo comparecer nem ao meu’.

Pois então, você resolveu ir embora justamente agora, quando não poderemos nos despedir pessoalmente, por causa do isolamento social, durante a pandemia de coronavírus. Nem nós, seus muitos amigos, compareceremos ao seu.

Você deixa uma família amorosa, que pude conhecer, em especial a Conceição, admirável mulher, cientista e mãe, por quem você foi apaixonado até hoje.

Você deixa tantas coisas criadas, científicas, artísticas e políticas, e muitas ainda por fazer, como insistia há dez dias, quando combinávamos ilustrações para seu último livro, o Tratado de Guerra.

Você deixa saudades entre cientistas, médicos, entomologistas, professores, escritores, teatrólogos, ambientalistas e humoristas.

Vou sentir muita falta da nossa convivência cultivada nas últimas décadas, durante as quais me privilegiou com sua amizade.

Há muitas lembranças para revivermos sua presença em nossas vidas.

Mas o mundo ficou mais vazio hoje.

Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues (LOR), médico e cartunista

Piadista Angelim

“Morreu o professor Angelo Machado, o nosso Angelim. Fui aluno dele no primeiro ano de Medicina na UFMG (1963), em neuroanatomia. Ele costumava sair com a turma na sexta-feira à noite para cantar, tomar uma cerveja e contar lorotas. Foi destacado membro fundador do ‘Show Medicina’, junto com o Jota DÂngelo, ambos professores de anatomia. Depois, nos reencontramos na militância ambientalista após a anistia. Sua obra priorizava alunos, as crianças e os bichos! Apelidou a libélula de lava-bunda! Não houve velório devido à quarentena. Angelim faria piada com isso, tenho certeza!”

Apolo Heringer, médico e ambientalista

Guerreiro

“Um amigo me disse há pouco que eu perdi um irmão, o professor Angelo Machado. Mentira. Não perdi um irmão. Eu ganhei, há 20 anos, um pai, um amigo, um irmão e autor genial, que confiou a mim a tarefa de levar ao palco sua primeira peça para adultos Como Sobreviver em Festas e Recepções com Buffet Escasso. Foi ele que me levou ao Programa do Jô, abrindo portas para que nosso espetáculo fosse ganhando o Brasil. Em tudo o que conquistei na vida tem um pouquinho desse mestre maravilhoso, que há de permanecer vivo em nossa memória. Muito obrigado, professor, por mudar minha história de vida. Deus conforte sua família. O senhor combateu o bom combate como um guerreiro exemplar. Descanse em paz!”

Carlos Nunes, ator

Companheiro

“Perdemos a grande figura humana do ambientalista, escritor, professor e pesquisador Angelo Machado. Do meu lado pessoal, perco um amigo, um orientador, um companheiro de bons e esporádicos papos ambientais. Quanto conhecimento, quanto discernimento, quanta sabedoria. A natureza em Minas ficou mais pobre!”

Ronaldo Vasconcellos, presidente da ONG e da Rádio Ponto Terra

Apaixonado

“Que sua paixão pelas libélulas nos ensine a voar…”

Cida Falabella, atriz e diretora teatral

Amigo

“Recebi com muita tristeza a notícia do falecimento de um grande amigo, o professor Angelo Machado. Ele doou sua vida em favor da ciência, da pesquisa e também

da literatura.”

Antonio Anastasia, senador, ex-governador de MG

 

Amoroso

“A pandemia da Covid-19 traz mazelas humanas incalculáveis, além das já dolorosas milhares de mortes. O isolamento social imposto trará não só as já estimadas tragédias socioeconômicas, mas também muitas dores de alma. Uma triste condição é a da solidão da partida. Perdemos recentemente um grande mineiro, e não pudemos, coletivamente, nos despedir dele em merecida, grande e bela homenagem: Angelo Machado, cientista e amante da natureza. A mídia – apesar do samba de uma nota só do coronavírus – reservou importante espaço para exaltar sua vida muito produtiva, criativa e colaborativa. De tudo o que foi dito e verdadeiro, acrescento: juntamente com Hugo Werneck, ele foi ativista da causa ambiental com fundamento no amor e na ciência e tecnologia, acreditando, portanto, no melhor da humanidade. Atraia ‘distraídos’ para a causa ambiental sem as mãos fechadas e o dedo indicador em riste. Com os dedos abertos em movimentos que chamavam e acolhiam, e uma boa prosa, inteligente e informativa, capturava todos com o abraço do conhecimento, da confiança e da amizade.”

Patrícia Boson, diretora da Conciliare Consultoria Socioambiental e membro do Conselho Editorial da Ecológico

“Voa Angelim, voa!”

Quem sabe um dia, deixaremos de ser cegos e surdos, como você tentou nos ensinar pela ótica da ciência.

E iremos compreender que, no fundo ecológico, o outro nome da Covid-19 é o nosso continuado desamor pela natureza e o meio ambiente que nos protegem. Obrigado, mestre, pelo seu sonho e conquistas aqui registrados